Carta aberta sobre mastectomias para redução de risco em mulheres de alto risco

Carta aberta da Sociedade Brasileira de Mastologia sobre mastectomias para redução de risco (mastectomia “preventiva”) em mulheres de alto risco.

Rio de Janeiro, 03 de fevereiro de 2024.

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) vem por meio desta reiterar a indicação médica de cirurgias mamárias redutoras de risco, outrora conhecidas por mastectomias preventivas ou profiláticas, em algumas mulheres com risco elevado para a doença.

O avanço de conhecimento sobre os fatores de risco para o câncer de mama, principalmente através de exames diagnósticos (testes genéticos) permite amplo conhecimento sobre o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama ao longo da vida.

Algumas mutações genéticas, consideradas de alto risco (ou alta penetrância), conferem elevado risco vitalício de desenvolver câncer de mama, podendo atingir 90%.

Além disso, as pessoas com estas mutações costumam desenvolver a doença numa idade mais precoce que a habitual, atingindo mulheres no auge de sua vida pessoal e profissional e, muitas vezes, sendo responsável por diminuição da expectativa de vida e acarretando grande impacto psíquico e social .

As alternativas preventivas nesta população são muito limitadas, restringindo-se somente à detecção precoce da doença. Infelizmente, nestes casos inexistem medidas medicamentosas para a diminuição do risco.

As mastectomias “preventivas”, também chamadas de mastectomias redutoras de risco, são uma alternativa eficaz e conhecida para a diminuição do risco de desenvolvimento do câncer de mama nestes casos.

Estudos clínicos prospectivos realizados desde a década de 1990 demonstraram redução média de 90% na incidência de câncer de mama e 80% na mortalidade da doença em mulheres de alto risco submetidas ao procedimento 1,2.

As diretrizes nacionais e internacionais das principais sociedades médicas que lidam com o câncer de mama sugerem que a mastectomia redutora de risco seja discutida com mulheres de risco elevado para câncer de mama, notadamente naquelas com mutações genéticas de alta penetrância e para aquelas que receberam radioterapia torácica entre 10 e 30 anos de idade 3,4.

Estas cirurgias, associadas à reconstrução mamária imediata, já fazem parte da relação de procedimentos autorizados pela agência reguladora de saúde (ANS) sob o nome: mastectomia subcutânea com inclusão de prótese (Cód. TUSS: 30602165). Os procedimentos de mastectomia simples e reconstrução mamária também estão presentes na relação de procedimentos do Sistema Único de Saúde.

Cabe ressaltar que a mastectomia redutora de risco é um procedimento de exceção, restrito a um grupo muito específico de pacientes. Sendo assim, o seu uso requer cautela!

Infelizmente existe muita informação incorreta sobre o assunto nos meios de comunicação, principalmente após a notória cirurgia realizada pela atriz Angelina Jolie em 2013.

O procedimento somente deve ser realizado por mastologistas habilitados(as), após análise individualizada da paciente, com explicações sobre riscos e benefícios.

Respeitando-se todas estas premissas, a SBM acredita que o procedimento deva ser considerado tanto na saúde pública quanto na suplementar como forma de prevenção primária do câncer de mama em mulheres de alto risco. Isto permite melhor atenção à saúde das pessoas, além de permitir economia de custos pela redução dos tratamentos oncológicos.

Sem mais,

Guilherme Novita
Diretor da Escola Brasileira de Mastologia (2023-25).

João Henrique Penna Reis
Diretor da Comissão de Oncogenética da SBM (2023-25).

Gil Facina
Diretor da Comissão Científica da SBM (2023-25).

Augusto Tufi Hassan
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (2023-25).

 

REFERÊNCIAS LITERÁRIAS:

  1. Hartmann LC, Schaid DJ, Woods JE, Crotty TP, Myers JL, Arnold PG et al. Efficacy of bilateral prophylactic mastectomy in women with a family history of breast cancer. N Engl J Med, 1999; 340(2): 77-84; doi: 10.1056/NEJM199901143400201.
  1. Meijers-Heijboer H, Brekelmans CT, Menke-Pluymers M, Seynaeve C, Baalbergen A, Burger C et al. Use of genetic testing and prophylactic mastectomy and oophorectomy in women with breast or ovarian cancer from families with a BRCA1 or BRCA2 mutation. J Clin Oncol, 2003; 21(9): 1675-81; doi: 10.1200/JCO.2003.09.052.
  1. Carneiro VCG, Gifoni ACLVC, Mauro Rossi B, Andrade CEMDC, Lima FT, Galvão HCR et al. Cancer risk-reducing surgery: Brazilian society of surgical oncology guideline part 1 (gynecology and breast). J Surg Oncol, 2022; 126(1): 10-19. doi: 10.1002/jso.26812.
  1. McCarthy RL, Copson E, Tapper W, Bolton H, Mirnezami AH, O’Neill JR et al. Risk-reducing surgery for individuals with cancer-predisposing germline pathogenic variants and no personal cancer history: a review of current UK guidelines. Br J Cancer, 2023; 129(3): 383-392; doi: 10.1038/s41416-023-02296-w.