Aumento dos linfonodos nas axilas após imunização contra Covid-19 não pode ser confundido com sintoma de câncer de mama

Estudos mostram reação frequentemente relatada em pacientes imunizadas com doses das vacinas Moderna e Pfizer-BioNTech. Entidades brasileiras criam recomendações a radiologistas para considerarem esses achados nos exames de imagem das mamas como possíveis efeitos colaterais da vacina

Estudos recentes mostram que algumas vacinas utilizadas contra a Covid-19 (Sars-CoV-2) causam um efeito colateral até então pouco conhecido e que pode ser confundido com um dos sintomas de câncer de mama: a linfonodopatia axilar ipsilateral ou popularmente conhecido como “ínguas”.
Segundo a Dra. Linei Urban, coordenadora da Comissão Nacional de Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), estudos comprovaram que as vacinas causam um número significativo de aumento dos linfonodos na região das axilas, sintoma que pode ser confundido com câncer de mama e ser detectado nos exames de mamografia. A médica explica que os linfonodos estão presentes em todo o corpo e são parte importante do sistema imunológico, pois ajudam a reconhecer e combater infecções.

Uma pesquisa dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, de janeiro deste ano, apontou que das pacientes submetidas à vacina Moderna Covid-19, a linfonodopatia axilar foi a segunda reação local mais frequentemente relatada, com 11,6% das pacientes com a condição depois da primeira dose e 16%, da segunda dose, na faixa etária de 18 a 64 anos, dois a quatro dias após a vacina.

O mesmo centro também avaliou pacientes imunizadas com doses da Pfizer-BioNTech. Nesse caso, a linfonodopatia axilar não constava da lista de efeitos adversos da vacina, porém, foi citada de forma espontânea por 64 pessoas no grupo que recebeu o imunizante em comparação com apenas dois casos no grupo placebo, dois a quatro dias após a vacinação, com duração de 10 dias em média. Para a Dra. Linei Urban, como foi efeito relatado de forma espontânea, acredita-se que a incidência seja maior.

A radiologista esclarece o motivo do surgimento desse sintoma. “As alterações nos linfonodos pós-imunização são consideradas um evento raro, podendo ocorrer depois de qualquer vacina, como contra o sarampo, a varíola e a influenza, entre outras, especialmente aquelas que evocam uma resposta imune forte. E as vacinas contra a Covid-19 são assim, altamente imunogênicas”, afirma.

Contudo, a Dra. Linei aponta que esses relatos de aparecimento e duração foram baseados no exame clínico, portanto, provavelmente, as taxas de detecção pela mamografia podem ser maiores e, por isso, é necessário distinguir o episódio dos sintomas de câncer de mama.

“Ainda que seja indispensável excluir malignidade mamária ou extramamária como causa de aumento dos linfonodos axilares, o diagnóstico de linfonodopatia reacional à vacina da Covid-19 deve ser considerado pelos radiologistas no momento da realização da mamografia”, afirma a Dra. Linei Urban.

Para evitar possíveis equívocos interpretativos, a Comissão Nacional de Mamografia do CBR, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), prepararam recomendações aos serviços de diagnóstico por imagem que executam — -exames de mamas inserindo ações como:

– inclusão, na anamnese das pacientes, do status da vacinação, com data e lateralidade da imunização, assim como o tipo de vacina recebida;
– recomendação de que o agendamento dos exames de rastreamento para câncer de mama (pacientes assintomáticas) seja realizado antes da primeira dose ou depois de quatro semanas da segunda dose da vacina contra a Covid-19;
– no caso de detecção de linfonodopatia axilar unilateral em mulheres que receberam a vacina contra a Covid-19 nas últimas quatro semanas (ipsilateral ao lado da imunização), sem lesão mamária suspeita concomitante, sugere-se classificar como provavelmente benigna;
– recomendação de controle de 4 a 12 semanas depois da segunda dose da vacina. No caso de persistência, então considerar biópsia do linfonodo para excluir malignidade mamária ou extramamária.

Fonte: Metrópoles